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As Raízes da Paixão

A paixão está por trás das maiores alegrias e dores humanas. Todos conhecem historias marcantes sobre este sentimento na vida real, nos livros e filmes. Ela tem suas raízes culturais que datam do surgimento do romantismo - movimento artístico que surgiu na Europa no final do século 18 e consolidou-se no século 19 - em contrapartida ao Iluminismo, que era pautado por ideias centradas na razão. Com o surgimento do romantismo, o subjetivismo, o homem e a satisfação dos desejos ficam em evidência.


A paixão é tema das tragédias nas histórias da mitologia greco-romana onde as relações acontecem entre deuses, semideuses e mortais. Podemos dizer que esse afeto só se configura por meio da idealização do parceiro. Considera-se o outro como um deus ou semideus, a pessoa mais especial e encantadora já encontrada. O conhecido mito onde o deus Eros toma por sua esposa Psique, uma mortal, ilustra as etapas do processo de individuação que se dá através do relacionamento com o outro. Sem dúvida a maior oportunidade de auto-conhecimento é por meio das relações onde aparecem nossas sombra e projeções.


Todas as pessoas querem se apaixonar apesar disto nem sempre ser uma escolha. Esse estado provoca alterações bioquímicas e comportamentais, que coloca o indivíduo em uma posição de grande fragilidade. Pessoas apaixonadas ficam a mercê de alguém, do seu carinho, afeto e atenção como uma coisa vital. Exatamente como quando nascemos e dependemos de alguém para sobreviver. Uma das melhores sensações humanas é o amor correspondido. Isso nos leva para início de tudo: o aconchego do colo materno, onde o mundo se resume ao bebê e sua mãe com toda atenção voltada para ele. Por toda a nossa vida procuramos recriar este momento onde não havia nada entre nós e nosso objeto de amor. D. Winnicott, psicanalista Inglês, fala sobre a “mãe suficientemente boa”. Postula que se houve qualidade nas primeiras relações com a mãe, o pai ou figuras substitutas, isso possibilitará a constituição mais, ou menos saudável da psique. Estes fatores podem influenciar diretamente a capacidade do indivíduo de ter mais ou menos condições de estabelecer e manter futuras relações afetivas na vida adulta.


Apaixonar-se libera neurotransmissores como a dopamina que estimulam a pessoa a buscar a manutenção deste estado. Como uma droga, o objeto da paixão pode causar abstinência, compulsividade e alterar a crítica.


Esta recompensa bioquímica entre outros fatores pode levar os indivíduos a viverem essas experiências sem se importar com as consequências para suas vidas e para a de outras pessoas. Uma boa ilustração do aspecto destrutivo da paixão está no filme Perdas e Danos. Neste longa metragem de 1992, o personagem de Geremy Irons é um Ministro de Estado que se apaixona pela noiva de seu filho. Apesar de saberem que havia grande possibilidade deste romance destruir as suas famílias, eles o mantém.

 

“O que se faz por amor está muito além do bem e do mal” Nietzsche

 

A permanência neste estado destrutivo da paixão revela aspectos não integrados da psique do indivíduo. A impulsividade pode derivar de uma dificuldade do paciente perceber suas motivações, fixações e simbolizá-las. Estes aspectos quando conscientizados, permitem ao indivíduo não mais atuar a partir de seus padrões de comportamentos repetitivos e compulsivos. Esses fatores influenciam a escolha do parceiro e a forma de estabelecer relações afetivas na vida adulta.


“Impulsividade baseia-se em uma inabilidade para tolerância à frustração, assim como em uma perturbação da realidade e da autocrítica, estando a motilidade ou atividade marcadas por uma qualidade dramática” (GREENACRE, 1950, 19, op. cit., p. 457).


Em alguns casos a paixão não é correspondida e pode vir acompanhada de muito sofrimento e angústia. A capacidade do indivíduo em julgar a situação e tomar decisões fica prejudicada. Apesar daquela situação não lhe fazer bem, não consegue desvenciliar-se e sua autonomia fica comprometida.


O nível de obsessão e dependência na paixão esta diretamente ligada á formação saudável da estrutura da psique. Alguns aspectos patológicos do indivíduo vão influenciar diretamente a forma de encarar a ameaça da perda do objeto de amor que pode ser mais ou menos desestruturante. Em alguns casos é impossível para o sujeito suportar a ameaça de ruptura da relação levando a estados depressivos graves e até ao suicídio.


Assim, mesmo que aquela relação traga sofrimento e consequências ruins para sua vida, a pessoa não consegue romper o vínculo.


A análise é uma oportunidade de verbalizar ao invés de atuar. A conscientização permitem ao indivíduo encontrar dentro de si aspectos falhos e insuficientes dos primeiros anos de vida e elaborá-los.


Nesse processo a relação transferencial pode reproduzir os vínculos objetais mal estabelecidos e, com sucesso, possibilitar a reconstrução das lacunas na formação da identidade do indivíduo. O fortalecimento do ego propicia que parte da energia investida no objeto seja redirecionada para si.




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