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Resiliência a favor das Relações

O conceito de resiliência é empregado nas ciências socais há poucos anos. Em alguns setores das ciências exatas e biológicas, refere-se á propriedade e resistência dos materiais. O que é resiliência? O quanto ela contribui para a manutenção de relações saudáveis?


A psicóloga argentina Edith Grotberg, pesquisadora do Instituto de Estudos de Saúde Mental da Universidade George Washington é apontada como uma das mais importantes pesquisadoras do tema resiliência no âmbito social e psíquico. Ela sintetiza assim o conceito: “é a capacidade universal que uma pessoa, grupo, ou comunidade previna, minimize ou supere os efeitos nocivos das adversidades”.


No campo da psicologia e psicanálise de uma forma geral, podemos considerar que a infância é terreno fértil para o estabelecimento de saúde mental ou ausência dela. Segundo a psicanálise de D. Winnicott, desde o nascimento, as boas condições ambientais vividas pelo bebê são determinantes para a estruturação do equilíbrio emocional do indivíduo. Fazendo uma comparação a grosso modo, poderíamos pensar que os primeiros meses de vida da criança são como a primeira etapa da construção de uma casa. A fase inicial é uma das mais importantes, pois é onde são construídas as fundações e os alicerces que vão garantir sua estrutura sólida e firme para suportar todo o restante da construção. Poderíamos afirmar que quanto mais favorável os primeiros cuidados, vínculo e o ambiente que o bebê se desenvolve, provavelmente mais forte será sua psique para enfrentar a vida e sua vicissitudes.


A quantidade de afeto recebida será sempre a principal matéria prima para tornar uma pessoa resiliente, mesmo que as situações sociais sejam desfavoráveis. Os eventos traumáticos que podem ocorrer durante a vida, também impactam o desenvolvimento e podem provocar uma fixação, estacionando o processo de amadurecimento e a capacidade de elaboração, superação e adaptação. Dentro dos fatores que podem impactar a saúde mental destacamos: violência familiar, rupturas de vínculos parentais, doença, dependência e abuso de álcool e drogas pela família e pelo indivíduo. Os fatores de desenvolvimento iniciais combinados com os sociais e familiares e culturais, vão determinar a capacidade de resiliência do indivíduo.


A pesquisadora canadense Martineau (1999) atribui o conceito de resiliência de uma forma geral, tanto quando as pessoas que mantém relações apesar dos problemas, como aquelas que conseguem terminar com mais facilidade seus relacionamentos disfuncionais. Muitos aspectos favorecem para a manutenção de vínculos duradouros e saudáveis principalmente no campo amoroso. Além da saúde mental destaco também a capacidade de respeitar e aceitar as diferenças, escuta, auto estima, empatia, tolerância, autoconhecimento entre outros. Na situação clínica é comum encontrarmos pacientes vulneráveis e desestruturados, com depressão severa devido ao término de um relacionamento. Na ocorrência de Transtorno de Personalidade Borderline, que tem como um dos principais sintomas justamente a incapacidade de resiliência, as tentativas de suicídio são frequentes, quando ocorrem ameaças de abandono ou rompimento de vínculos. Precisamos de muita saúde e maturidade para manter vínculos tanto como para rompê-los.


Quando se trata de indivíduos e relacionamento, não podemos pensar em scripts rígidos para situações pessoais, nem julgar e estabelecer o que é razoável suportar dentro de uma relação em nome de sua manutenção. Podemos considerar patológico tanto a insistência em manter ligações disfuncionais por um grande período de tempo como romper vínculos por situações corriqueiras. A nossa sociedade atual onde os relacionamentos virtuais ganham cada vez mais espaço e adeptos acaba por privilegiar a superficialidade dos encontros. Através de aplicativos ou redes sociais, os contatos iniciais são facilitados. Sem esforço para conhecer alguém e iniciar uma conversa basta um toque na tela. As pessoas têm centenas de opções, o que pode dificultar a escolha, iniciando uma busca pela perfeição e o melhor candidato (a). Este formato pode gerar a tendência de se descartar relações que estão apenas no inicio ao surgimento da menor dificuldade. Como um cardápio, rapidamente se escolhe outra pessoa que se adapte ou se encaixe melhor nas expectativas muitas vezes irreais. Isso leva as pessoas a desistirem de uma forma precoce ao estreitamento do vínculo, ou desistem dos vínculos com a mesma rapidez que os fazem. Essa superficialidade também denota a ausência de resiliência do indivíduo.


Verdade que o conceito de resiliência tem que ser mais profundamente estudado. O que explicaria, por exemplo, pessoas que cresceram em situações caóticas e tiveram perdas significativas superem com rapidez suas aflições? A tendência é cada vez mais focar na saúde e prevenção, e não só nas patologias do desenvolvimento emocional. Muitas pesquisas nesta área selecionam este tipo de indivíduos para entender os fatores de proteção da psique e trabalhar cada vez mais para reproduzi-los principalmente na área da educação e saúde mental infantil.




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